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Visita da Cidade
Minha lembrança data de meados dos anos 90. Um Fusca laranja parou na porteira, lá no alto do campo, quando o olhar atento de cada um lá de casa voltava para a estrada grande. Sempre que ouvíamos o barulho de um automóvel era motivo de curiosidade. Naquela época pouquíssimos carros passavam por ali, e qualquer carro que parasse na porteira era sinal de que estávamos recebendo uma visita.
Um carro que fosse estranho já incitava alguém da casa a perguntar: “Quem será que é?”
Nesse caso já sabíamos que se tratava da família do Seu Alicirdo, um primo do meu pai que tinha um gosto por nos visitar. Suas visitas alegravam a todos lá de casa. A Vó Chica tinha um apreço muito grande por ele e toda a sua família, o pai sempre gostou dele, a minha mãe é uma pessoa que nunca vi uma pessoa mais feliz quando recebe uma visita e eu adorava quando o Seu Alicirdo vinha, porque ele tinha um filho e uma filha, e nós tínhamos pouca diferença de idade, então era a garantia de um domingo recheado de brincadeiras e aventuras.
Quando chegava uma visita da cidade, mudava toda a rotina lá de casa, principalmente o cardápio. Lembro que a vó, a mãe e o pai se empenharam para fazer o melhor que podiam para servir no almoço.
Hoje, 30 anos depois, converso com Seu Alicirdo e fico feliz que ele continue a visitar meus pais. Eu raramente o vejo, nem conheço mais seus filhos, mas pelas redes sociais falo com ele e assim acabo sabendo que estão bem.
Cada um de nós carrega ao menos uma saudade como esta, de um tempo que foi bom o suficiente para se tornar um fragmento de lembrança. O tempo não voltará, mas veja como pode uma visita ter ficado tão marcada na minha vida.
Prova de que não são os bens materiais que se perpetuam e sim, aquilo que de fato foi vida.
Aquele momento em que a vida nos permitiu ser feliz, de verdade, será lembrado eternamente. Se tornará saudade, além disso, se transformará no maior tesouro que teremos no futuro. Bons tempos foram aqueles em que um barulho chamava a atenção e alguém lá em casa perguntava entre a curiosidade e a alegria: “Quem será que é?”