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Uma toalha na janela
O sol não brilhou, não triunfou sobre o horizonte como na grande maioria dos dias desse ano, olhei para onde ele nasce, mas nem sinal de sua grandiosidade. Obviamente o dia clareou graças a sua presença, mesmo que a luz do seu brilho tenha sido encoberta pela neblina densa.
Ainda era moleque, tinha menos de dez anos, e por um tempo estudei à tarde. Hoje a molecada que estuda tem o direito de dormir um pouco mais, mas eu não. Sempre tive que saltar cedo da cama, para desempenhar as tarefas apontadas pelo meu pai.
Meu pai tinha uma das lavouras que era dividida ao meio durante o inverno, ou seja, em uma das partes era plantado pasto para as vacas, e na outra tinham plantas como batata, mandioca, enfim plantio para o nosso consumo. Essas lavouras não eram separadas por alambrado e a tarefa de pastorear o gado era feita por mim. Eu largava as vacas no pasto logo depois de tirarmos o leite, e ficava cuidando para que elas não viessem para as plantas.
Em dias de neblina como hoje era uma dificuldade, pois além de ser um trabalho monótono, as vacas, ao entrarem no pasto, se dispersavam, e não tinha como avistar todas pois elas sumiam na neblina. Não demorava muito para uma delas ignorar o limite e querer experimentar umas folhas diferentes no batatal. Minha atenção tinha que ser redobrada, a neblina ia molhando e o vento gelado queimava a pele do rosto e “encarangava” as mãos.
Eu torcia para o sol aparecer por três motivos: para aquecer minhas mãos, para enxergar as vacas e para olhar lá na distância, onde avistava a nossa casinha, para ver a hora que a Vó Chica estendia a toalha de secar a louça na janela. A toalha branca na janela era o sinal de que eu podia repontar as vacas de volta para o potreiro, ir ajudar a vó nos afazeres da cozinha e me preparar para ir a aula.
Os motivos se foram com o correr dos dias. Hoje, quando a neblina baixar, não avistarei a toalhinha branca na janela, mas os raios de sol por certo virão aquecidos como outrora, trazendo agora mais do que simples calor, hoje eles já me representam saudades do que na época eu não sabia que era aprendizado. Daqui a pouco a neblina se dissipa e o maestro da luz volta com seu brilho intenso, ao contrário do tempo, pois esse, a neblina engoliu e não devolve mais.
Quando o tempo passar vamos sentir saudade até dos tempos difíceis, pois isso, não recomendo lamentos pela neblina de hoje. O Importante é sabermos que atrás da neblina tem um sol e que o tempo está correndo. E enquanto lamentamos perdemos de aproveitar melhor o aprendizado desse momento.