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10/11/2023
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Uma carona

    Quando ainda era guri, caminhar sete ou dez quilômetros era algo totalmente normal e fazia parte do dia a dia. Os meios de locomoção mais usados eram o velho ônibus do Augustinho Panisson, à pé ou, com muita sorte, alguma carona… a Carona era com muita sorte mesmo… Em nossa comunidade, com mais de 50 famílias, pouco mais de 5 famílias tinham um carro.

    Quando eu e a vó íamos na cidade, normalmente a gente voltava com sacolas de compras. As sacolas, inicialmente com 10kg, mas, com a soma dos passos pela velha estrada grande, parecia que ia dobrando o seu peso. Quando ouvíamos um barulho de carro nos batia um sentimento de alegria e esperança. Era uma chance clara de carona que se aproximava.

    A não ser que o carro que se aproximava fosse a camionete do "Zancanaro"... Este senhor nunca dava carona para ninguém e ainda tinha por hábito passar em alta velocidade, sem sequer colocar a camionete para o lado. Na passagem dele pelas pessoas, saltavam pedras das rodas; levantava uma poeira imensa ou, com um pouco mais de má sorte, se recém tivesse chovido, havia o risco de saltar água das poças…

    Um dia, muitos anos mais tarde, ouvi alguém comentar que ele só dava carona a quem pedisse. Ou seja, teríamos que fazer um sinal pedindo carona. Porém na nossa região isso era algo incomum. Quem tinha carro oferecia carona ao passar por alguém. Muitos, até mesmo quando não tinha mais lugar no carro, amontoavam-se para ajudar a diminuir o percurso de alguém.

    Muitas vezes desejei ter um carro para ter a oportunidade de poupar as pernas da Vó Chica. Quando consegui comprar já era tarde, mas muitas vezes, ao dar carona para alguém, me representa que estou poupando as perninhas cansadas da vó.

    Enfim, de carona em carona fui aprendendo que a generosidade não habita todos os corações. Há pessoas que até ajudam, mas para que essa ajuda aconteça o outro precisa se humilhar. É por isso que não conseguimos embarcar no coração de todos.

    Existem muitas formas de dar carona. O mundo mudou e hoje quase todos possuem carro, mas há muitas cargas que podem ser aliviadas com um simples gesto de ajuda. Ao invés de ignorar, passar por cima, ou exigir a humilhação alheia, lhe sirva uma palavra de consolo, pois, uma palavra ou um abraço na hora certa pode ser tudo o que o outro precisa.


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Postado por:

Jácson Lusa

Jácson Lusa

Tradicionalista, poeta, pesquisador, comunicador de rádio e cursando bacharelado em adm. de empresas.

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