Eu estava na quarta série, na já extinta Escola Municipal de Ensino Fundamental Tiradentes... Ali, na pequena sala de aula, a mesma professora lecionava para as cinco séries iniciais. Havia uma diferença de idade entre os alunos, e isso se tornava mais visível quando porventura alguns alunos eram repetentes do quinto ano...

    Estávamos no momento do recreio, quando eu me desentendi com um colega do quinto ano. Ele era muito maior que eu, e claro, eu estava passando por apuros. Jamais esquecerei essa cena... Em meio aos empurrões e luta com o mocinho me lembro de ver se aproximando um homem a cavalo, que chegou perto da cerca e falou: Solta o guri agora! Meu colega desistiu da luta na hora, e eu senti um certo alívio. O homem não disse mais nada e se foi estrada afora...

    Naquele momento, esse homem que eu não conhecia, parecia um anjo, que chegou na hora certa, e me salvou. O rapaz que me batia, não ousou mais chegar nem perto de mim. Assim passou o segundo período de aula, até que chegou a hora de irmos para casa.

    Quando eu estava chegando em casa, para minha surpresa, me deparei com o cavalo do meu “herói”... Entrei em casa e lá estava ele tomando mate com meu pai. Se tratava de um primo do meu pai que estava indo visitá-lo e ao passar perto da escola me reconheceu e me salvou. Porém, obviamente, contou para o meu pai que eu estava brigando no colégio, e confesso que me arrependo de ter sido salvo. Preferia que meu herói não tivesse visto a briga, já que do meu pai não tive herói algum para me salvar.

    Muitas vezes surgem “salvadores” em nossa vida. Normalmente na hora em que estamos em apuros, onde qualquer ajuda é bem vinda e na hora em que não estamos em posição de avaliar ou escolher a mão amiga. É nessas horas que confundimos a ajuda com um falso sentimento de vitória ou de superação, enquanto que na verdade se trata de uma pausa.

    Por outro lado, muitas vezes, recebemos ajuda de quem jamais imaginamos, e parece que a vida coloca anjos no nosso caminho na hora em que as esperanças já estão se findando.

    De todo modo, seja uma vitória ou um percalço, se estava destinado para vivermos, a vida se encarregará de aplicar a prova. Podemos até escapar por um momento, mas não tardará e estaremos diante da situação que adiamos.

    Deus não nos coloca fardo maior do que possamos carregar, e se a missão nos foi dada, é porque ele acredita que somos capazes. Dividir nossa missão com os outros nem sempre diminui a carga, aliás, pode até aumentar.