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Um estranho caso de amor
Existe um problema muito negligenciado do debate público na atualidade: o amor pelos livros.
Veja bem, toda vez que alguém vai em uma livraria se depara com uma infinidade de livros que pode eventualmente comprar. Tem vezes que a gente só entra para comprar uma caneta, aproveitar o ar-condicionado, dar uma olhadinha em uma orelha, mas acaba sendo solapado pelos livros. Eles têm esse encanto, sabe?
Então, o sujeito está lá e, dentre inúmeras opções, acaba comprando um livro que parece uma boa ideia no momento, mas que vai se juntar à pilha dos ainda não lidos, a maior da casa, diga-se de passagem.
A coisa fica muito pior no mundo virtual. Vai lá, tenta agora entrar numa livraria online. É insano. Tem tudo, absolutamente tudo.
Como redução de danos, eu estabeleci uma cota mensal que nunca é respeitada, sempre superada. Todavia, dentro de uma margem de endividamento razoável.
A gente entra lá e boom! Box do Gabriel Garcia Marques com 3% de desconto. Imperdível. Comprei um assim esses dias.
Os livros nos causam essa fascinação.
Uma pessoa que lê muito, não tenho dúvida nenhuma, adquire ainda muito mais do que um dia poderá ler. Talvez exista até mesmo uma razão matemática que sintetize isso. Pessoas que leem pouco, tem um livro não lido para cada lido, as que leem razoavelmente devem ter uns cinco não lidos para cada lido, as que leem muito a razão de um para dez, ou um para vinte.
O prazer da leitura desencadeia um efeito colateral que é ansiedade por ler. Ou seja, a gente lê já pensando em toda a obra da autora ou do autor. Se já morreu, pensamos como seria viver em seu tempo. Se ainda vive, temos certeza de que poderíamos tomar um café com eles, elogiar ou criticar um livro, a obra, um parágrafo, dizer como aquela personagem lembra uma prima distante.
Enfim, o amor pelos livros é algo terrível. Mas tem coisa ainda pior: não ter, não querer, não amar livros. Nenhum sofrimento é melhor do que o de amor.
Como é bom estar disposto a fazer essas escolhas.