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Todo mundo parte
A partida dessa vida é algo natural e inerente a nossa vontade. Aceitar a morte é o princípio de viver bem, leve e mais feliz. Tememos a morte, mas por vezes, vivemos muito mal, parecendo zumbis, sem fazer valer a oportunidade de viver. Morrem nossos amigos, familiares, inimigos, escritores e pessoas que se destacam e nos mostram formas diferentes de ver a vida, etc.
Esse prólogo inicial foi apenas para dizer a vocês, leitores, que essa semana fiquei um pouco mais órfão. Venho com o tempo ficando um pouquinho mais órfão a cada partida de quem é relevante para mim. Seja familiar, no esporte, na arte ou em qual situação for, fico órfão, quando alguém importante para mim parte. Obviamente sua obra permanece, mas será sempre derradeira, não teremos mais a novidade daquele Ser que era tendência, que fazia o coração aquecer, que era um diferencial para a existência de alguém, minha, no caso do presente texto.
Essa semana minha orfandade tem nome, chama-se Rita Lee. Mulher guerreira, brava lutadora contra o “status quo” de um mundo injusto e demagogo, além de possuir muito talento. Sua obra retroativa permanecerá na eternidade das memórias, dos Lps, CDs, livros, revistas, jornais, VHSs, entre outros arquivos existentes. Mas, o vazio de uma geração que está indo embora, esse vazio dilacerante, não tem recuperação. Ficamos órfãos, um pouco a cada dia, mas até isso é parte da existência humana. Deixo uma letra dessa grande artista que nos deixou essa semana: Todas As Mulheres do Mundo (Rita Lee).
Elas querem é poder
Mães assassinas, filhas de Maria
Polícias femininas, nazijudias
Gatas gatunas, kengas no cio
Esposas drogadas, tadinhas, mal pagas
Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz
Garotas de Ipanema, minas de Minas
Loiras, morenas, messalinas
Santas sinistras, ministras malvadas
Imeldas, Evitas, Beneditas estupradas
Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz
Paquitas de paquete, Xuxas em crise
Macacas de auditório, velhas atrizes
Patroas babacas, empregadas mandonas
Madonnas na cama, Dianas corneadas
Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz
Socialites plebeias, rainhas decadentes,
Manecas, alcéias, enfermeiras doentes
Madrastas malditas, super-homem sapatas
Irmãs La Dulce beaidetificadas
Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz
Nossa Senhora Aparecida, Dercy Gonçalves
Clarice Lispector, Carmem Miranda, Marília Gabriela
Hebe Camargo, Regina Casé e Elis Regina
Lilian Witte Fibe, Norma Bengell, Bibi Ferreira
Maria Bonita, Anita Malfatti, Magdalena Tagliaferro
Danuza Leão, Nara Leão, Fernanda Montenegro
Wanderléa, Sonia Braga, Luiza Erundina, Dona Canô
Princesa Isabel, Joyce Pascowitch, Lonita Renaux
Virginia Lane, Virginia Lee, Mary Lee, Liège Monteiro
Lucinha Araújo, Balú, Caru, Pagu, Matilda Kovak
Zélia Gattai, Angela Diniz, Daniela Perez, Cláudia Lessin
Aida Curi, Elvira Pagã, Luz Del Fuego, Bruna Lombardi
Hortência, Claudete e Ione, Silvia Poppovic
Vania Toledo, Laura Zen, Minha Mãe, Roberta Close
Mônica Figueiredo, Ruth Escobar, Dolores Duran
Rebordosa, Dora Bria, Tizuka Yamasaki
Tomie Ohtake, Rita Camata, Rita Cadillac, Lúcia Turnbul
E eu, e eu, e eu, eu, eu, eu
Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz.