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14/07/2023
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Sem orelhas

Novamente me coloco na estrada do pensamento, e a passos largos, percorro meus tempos para me acampar lá nos meus tempos de guri…

Chegava o final de ano, e vinham as visitas, vizinhos, amigos com a mesma pergunta:

- Passou de ano Jaque? (Sempre me chamaram de Jaque com exceção na escola, onde meu nome era pronunciado formalmente. Para amigos e conhecidos era Jaque.)

- Sim, passei! Eu respondia orgulhoso.

Mesmo com a resposta alguns mais incrédulos insistiam:

-Pegou recuperação?

- Não, passei direto!

Comum também era comum nesse tempo, talvez por demonstração de interesse ou por curiosidade, alguns pedirem: - Quero ver teu caderno!

Eu adentrava no meu quarto, trazia meu companheiro de jornada e me sentia orgulhoso de apresentar.

Antes ainda de abrirem o caderno vinha o comentário clássico: Que bonito! Parabéns! Não tem orelhas!

Era quase que uma regra de vida os cadernos de piá ser desorganizado e cheio de "orelhas". As “orelhas” eram quando as pontas das folhas iam se dobrando de tanto serem folheadas, ou na maioria dos casos, por descuido na hora de usar e o caderno ficando com as folhas dobradas na pontinha ficando mais avolumado.

O meu caderno era para mim como se fosse um portal, onde eu passava para construir as esperanças de dias melhores, e era por isso que eu o cuidava com tanto carinho e apreço. Sempre tive orgulho de mostrar meu material para as pessoas, pois no fundo sabia que iria surpreender.

A vida sempre nos ensina com lições nos pequenos detalhes vividos. Com o passar do tempo percebi que, assim como um caderno, a nossa jornada de vida precisa de cuidado. Não é uma tarefa fácil construir os dias sem "orelhas". Fazer da vida uma história limpa, sem tropeços, sem descuidos, é uma missão quase impossível… Por isso de vez em quando revisito as folhas passadas, encontro as "orelhas" da minha jornada, desdobro-as, e busco aprender com elas para evitar de repetir nas folhas novas.

Assim como nos cadernos, é também na vida. Uma vez que a "orelha" surge, você pode fazer o que quiser, desfazer, desdobrar, apertar, mas a marca ficará para sempre e a folha jamais será como uma nova. Porém aprendi que mais importante que a “orelha” na ponta da folha, é o que você escreveu na folha inteira. Não adianta ter o caderno sem "orelhas", mas sem história escrita.


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Postado por:

Jácson Lusa

Jácson Lusa

Tradicionalista, poeta, pesquisador, comunicador de rádio e cursando bacharelado em adm. de empresas.

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