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13/09/2024
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Sem dinheiro

    Dos meninos que conviviam comigo, todos com aproximadamente 10 a 13 anos de idade, eu era o único que trabalhava só em casa, ou no máximo ajudava meu vizinho, o Tio Jovino, voluntariamente. Os meus amigos todos trabalhavam para algum agricultor e tinham uma remuneração diária ou, como costumávamos dizer, trabalhavam de “peão por dia”.

    Eu, mesmo que pensasse na remuneração, não tinha coragem de deixar o pai, a mãe e a Vó Chica trabalhando na nossa lavoura, para ir trabalhar para os outros em troca do dinheiro.

    Porém, quando meus amigos tinham seu próprio dinheiro, eu me sentia inferior a eles. Tolice minha de ter nutrido esse sentimento de inferioridade. Lógico que quando vemos alguém com um carro melhor que o nosso, viajando para lugares lindos, comendo nos melhores restaurantes, dando presentes caros, usando roupas de grifes, é normal nos sentirmos em desvantagem ou em inferioridade.

    Naquela época, só de ver um amigo com dinheiro na carteira já era motivo de me sentir menos capaz. Com o passar do tempo percebi, que o que eu construí naquele tempo, no coração das pessoas, tinha um valor muito maior do que a renda que os amigos ganhavam.

    Um dia, não faz muito tempo, estive conversando com um senhor, conterrâneo, e através de suas palavras percebi que o gesto de humildade e de respeito que eu tinha e tenho por meus pais era o que me diferenciava dos meninos da minha época. Fui condecorado com elogios de: "educado, obediente e humilde". Em uma das frases ele resumiu toda a fortuna que construí no coração dele: “Você sempre foi um guri querido, nunca foi ganancioso”.

    A vida gira tanto que um dia nos deparamos com a nossa consciência. Quando olhamos para o passado, a nossa mente se põe em reflexão, e a pergunta que fica martelando é a seguinte: De tudo o que eu fiz, o que realmente valeu a pena? É neste momento que você percebe que o dinheiro não vale nada, que o carrão não passa de um monte de lata, que a comida do restaurante não deixa tanta saudade quanto um “arroz com feijão e ovo frito”, que os lugares lindos não substituem os pôr de sóis dos dias comuns. Porém aquilo que de fato você construiu na vida das pessoas, o bem que você espalhou, as memórias que você gerou, se transformam em valores incalculáveis, e quando naturalmente alguém lembra disso como forma de reconhecimento, o sentimento que se apossa da gente é muito mais prazeroso do que ganhar um carro de presente. Por mais carteiras vazias e corações cheios...


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Postado por:

Jácson Lusa

Jácson Lusa

Tradicionalista, poeta, pesquisador, comunicador de rádio e cursando bacharelado em adm. de empresas.

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