Notícias
Recordações
Não vamos, agora, buscar responsáveis pelos eventos danosos cometidos ao nosso Estado, mas servirão no futuro como recordações e, assim espero, que não sejam esquecimentos.
Nosso grande poeta deixou o alerta olvidado pelos incultos: “A enchente de 1941. Entrava-se de barco pelo corredor da velha casa de cômodos onde eu morava. Tínhamos assim um rio só para nós. Um rio de portas adentro. Que dias aqueles! E de noite não era preciso sonhar: pois não andava um barco de verdade assombrando os corredores? Foi também a época em que era absolutamente desnecessário fazer poemas… (Mário Quintana in “Sapato florido”).
Hoje, para centenas e milhares de Gaúchos veem que a casa está vazia...a varanda, o quarto, a sala...onde está o quadro da família, a lembrança; só resta saudades.
Era tudo previsto até pelo poeta que encontrou a cama vazia a que dormia. Também, a praça está vazia, o coreto da Praça XV, o passeio, o banco, o Mercado. Onde está a Banda do Quarto Distrito, nos seus bares tocavam até samba, batuque de breque.
Ah! Capital dos Gaúchos aqui para retratar as demais regiões afetadas que eram coroados de ramos de essência de vida, energia, progresso desmistificadas, também, nas ramificações inesperadas da poesia.
Suas lindas madeiras de memórias e suas maneiras hábeis de manejar o solo, colonos, sábios em esculpir o tempo. Resta, por ora, a lua de prata, quando desvendada, que clareia o chão que descortina o brilho da semovente estrela, refletindo no tapete terroso e molhado.
Vamos recordar o dia de sol que não chega, de modo a poder ver o tempo, o qual, entre tantos entretempos e contratempos, confunde-se com segredos inconfessáveis ao pé do ouvido. Um quase sussurro de receios. Voltemos, que seja um sonho só para recordar o brilho de uma estrela, que despertam os girassóis e outras flores; que chegue logo a manhã, iluminado que tardiamente não vem a fazer recordar de um tempo, recentemente passado, longe da intempérie:
“Os meus pensamentos foram-se afastando de mim, mas, chegado a um caminho acolhedor, repilo os tumultuosos pesares e detenho-me, de olhos fechados, enervado num aroma de afastamento que eu próprio fui conservando, na minha pequena luta contra a vida.... Mas a água que consigo recolher fica aprisionada nos tanques ocultos do meu coração em que amanhã terão de se submergir as minhas velhas mãos solitárias...”.
Do poema de Pablo Neruda, in "Nasci para Nascer".