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31/03/2023
Primeiro o arroz
Houve um tempo em que, embora vivêssemos bem, não podíamos nos dar ao luxo de esbanjar. Lembro-me de que enquanto estávamos na roça, no período da manhã, a Vó Chica era responsável por fazer o almoço. Na maioria das vezes ela ia para lavoura junto com a gente e voltava mais cedo, por volta das dez e meia da manhã, a fim de fazer o almoço.
Neste tempo não era todos os dias que tínhamos carne nas refeições e nos dias em que havia era um pedaço para cada um.
Então eu desenvolvi uma estratégia, que creio que muitos também já fizeram ou ainda fazem… Comer antes o arroz, o feijão e a salada, e deixava no por último a carne. Num sentido de guardar a parte melhor ou a mais gostosa para o final.
Quando eu comia minha carne antes, parecia que o arroz, o feijão e a salada se tornavam difíceis de engolir. Ainda era obrigado a ver meu primo com a carne dele inteira enquanto a minha já tinha acabado.
Depois de adulto comecei a perceber que essa tática não era tão minha assim. Ainda hoje percebo que as pessoas usam na vida essa estratégia. Sacrificam-se para deixar o melhor para depois. Talvez a nossa mente já esteja programada para agir assim. Não sei ao certo se é vantagem deixar de viver as coisas boas da vida, esperando a data ou o momento especial. já vi muitas pessoas partirem antes de desfrutarem do que construíram.
Contudo, mudar o padrão mental nem sempre é fácil. Não encontramos indulgência em aproveitar a vida, em meio a tantas responsabilidades. Outro fator é que, historicamente, nos comparamos aos outros e quando a maioria conduz a vida de uma determinada forma parece que o correto é fazermos igual.
Ultimamente tenho equilibrado essa estratégia, separo, ao menos, parte do dia para fazer o que gosto, e me dou ao capricho de comer um pedaço da “carne” entre as colheradas de arroz e feijão. Confesso que até o arroz e o feijão estão tendo um sabor mais delicioso.
Não se surpreendam se de vez em quando me virem comendo a sobremesa antes da refeição, pois a vida acontece agora…