Esaú e Jacó, relata o Gênesis, eram irmãos, filhos de Isaac e Rebeca. Certo dia, regressando do campo, Esaú estava com muita fome e desejou comer um prato de lentilhas, preparado por Jacó. Aproveitando o momento, Jacó propôs uma barganha: em troca da lentilha, Esaú, cederia a ele o valioso direito da Primogenitura. Esaú aceitou a condição e comeu a lentilha. O arrependimento veio em seguida.

Na época dos descobrimentos, portugueses e espanhóis ofereciam aos índios espelhos e outras miçangas em troca de ouro e diamantes. S índios imaginavam estar fazendo um grande negócio.

A ingenuidade de Esaú e dos índios continua se repetindo em nossos dias. O homem de hoje, especialmente o jovem, exige o prazer momentâneo. Eu quero ser feliz, agora, sem se importar com o depois. O prato de lentilhas simboliza os prazeres momentâneos, por vezes envolvido num brilho insuperável, mas que liquida a “primogenitura”. Só depois, as pessoas se dão conta do engano. Quase sempre tarde demais.

Há pessoas que trocam a família pela bebida; há os que trocam a própria consciência pelo dinheiro ou a santidade da família por uma aventura. Há os que negociam a liberdade pela droga. A contabilidade poderia continuar entre os valores e os falsos valores, entre a Bênção da Primogenitura e as lentilhas, entre o espelhinho e o ouro.

Nossa vida, tenhamos consciência ou não, é regida por um sistema de valores. E estes valores formam uma pirâmide estruturada a partir do valor maior, descende depois em pequenos valores e projetos. Nas encruzilhadas, precisamos tomar uma decisão entre as coisas ilusórias e as definitivas. O prato de lentilhas é logo esvaziado. Depois sobra a amargura, o desencanto e o arrependimento.

Já santo Agostino falava das realidades “belas ao avesso”, isto é, ilusória, fora de tempo ou de proporções. No Pai Nosso pedimos Deus que nos livre do mal. Mal e a má escolha. Na mesma oração pedimos Deus que não nos deixe cair em tentação. Isto significa luz para distinguir entre a Primogenitura e um vulgar prato de lentilhas.