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O verdadeiro abraço
Não se trata de servir melhor banquete, tampouco é o melhor sofá… O que de fato faz com que alguém queira voltar, ou ficar, são detalhes tão pequenos que, muitas vezes, nem as palavras sabem explicar. O abraço é um deles e ao longo da minha vida comecei a aprender mais sobre esse gesto. Existe um sentimento que uso para ilustrar o texto de hoje. Esse sentimento se chama amizade e esse é um dos sentimentos que se perpetua nutrindo sua energia através do abraço.
No ambiente onde me criei nunca houve carência de afeto e amor, embora não houvessem muitas demonstrações. Meu pai sempre mostrou seu amor pela família através de seu trabalho, de seu cuidado, proteção, mas sinceramente, ele nunca foi muito de abraçar. A vó Chica se tornou meu anjo, minha protetora, o meu maior exemplo de amor ao próximo, e mesmo assim não tinha o hábito do abraço, o que pode justificar a falta de importância que o abraço tenha tido para meu pai. Às vezes fico imaginando: se assim eles são tão bons, imagina se soubessem abraçar.
Por muito tempo banalizei esse gesto, por falta de atenção, por falta de conhecimento, ou por falta de capricho talvez. Abri os braços para abraços enquanto minha cabeça já estava em outro lugar, abracei quem não merecia e assim por diante. Até que um dia ganhei um abraço fraterno de um amigo.
Foi por volta de 2003, quando conheci o meu amigo Luiz Veríssimo. Confesso que até então não tinha me refletido sobre o valor de um abraço. Quando recebi seu abraço demorado, fraterno, apertado, foi como se.eu tivesse descoberto a essência da amizade. Senti verdade, respeito, ausência de preocupação com o tempo e com o resto das coisas. Parece que toda a energia estava focada naquele momento.
Até então meu abraços eram como os “desejo de bom dia” que recebo na rotina da vida… tão sem propósito que as pessoas nem fazem ideia do que acabara de falar. Meu abraços eram assim, sem propósito, com valor simbólico, apenas um rito necessário para cumprimentar. Foi depois desse, que aprendi o real sentido do abraço, a troca de energia, a carga de vida que se transfere através deste gesto nobre.
A verdade contida naquele abraço era tanta que corri o mundo, passei por tantas fases da vida, passei por tropeços, passei por vitórias, e o abraço do Luiz sempre foi igual, sempre fraterno, sempre renovador. A nossa amizade continua forte e perene alicerçada nos abraços que compartilhamos.
Com o passar do tempo comecei a dar valor para o abraço que dou, e aos abraços que recebo, aprendi a absorver o calor de abraços verdadeiros e a me proteger de abraços frios. Também aprendi a valorizar mais meu abraço e assim entender quando ele faz falta pra alguém e quando não faz diferença alguma. Aprendi também que a gente pode dar nosso melhor abraço, mas se a pessoa que receber não souber ou não estiver com o mesmo propósito, essa união de braços não passou de uma formalidade.