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“Melar Abeia”
Máscara, roupão especial, um fumigador e a coragem… Lá ia meu pai, como se fosse um astronauta, para “melar abeia”. Melar “as abeia” era como meu pai dizia quando chegava a época de repassar as caixas de abelha para retirar o mel. Minha infância toda foi marcada por momentos mágicos como esse.
Quando os dias passavam a ter o calor mais ameno, já se direcionando para o final do verão, meu pai começava o planejamento para tirar o mel das caixas de abelha. Nesse período as abelhas ficam mais calmas e facilitava a atividade. Meu pai sempre fazia essa tarefa à noite, e como ele sempre tinha muitos enxames de abelha, essa atividade se estendia por várias noites.
Assim que escurecia, meu pai preparava os avios de “melar beia” e ia fazer a retirada dos favos de mel. Lá na caixa, ele fumegava, e abria a caixa para a retirada dos favos. Sempre deixava uma quantidade que julgava suficiente para que as abelhas se alimentassem durante o inverno, e o resto ele trazia em baldes para casa. Com o mel em casa, tínhamos a missão de espremer esses favos para fazer a separação manual do mel e da cera. Normalmente essa função toda se estendia até a madrugada.
Espremer o mel com as mãos exige muita força e paciência. O mel não é como torcer uma roupa molhada que você aperta e a água sai. O mel é denso, e escorre devagar. Além disso, era preciso extrair o máximo possível do mel no processo da separação para evitar perdas, uma vez que depois a cera seria lavada com água, para seguir o processo de derretimento.
Cada safra de mel rendia representava uma boa fonte de renda extra importantíssima. Toda a venda era feita em casa mesmo, e muitas pessoas vinham da cidade comprar mel, na maioria das vezes faltava mel para a venda.
Dessas noites, muitas recordações ficaram, e uma delas era a presença de alguns amigos de meu pai. Ele sempre tinha dois ou três amigos que vinham nessas noites ajudar na tarefa. Depois meu pai retribuía, indo na casa deles para ajudar. Então embora o trabalho fosse cansativo e demorado, sempre foram noites alegres. A conversa sempre fazia com que fosse um entretenimento. Quase esqueço de contar um detalhe do qual eu tenho muita saudade: Eu sempre gostei de comer o mel no favo. Morder o favo e sentir o sabor do mel com o sabor da cera, é uma sensação de ter o sabor do mel na sua melhor condição.
No fundo nós somos assim. Executamos tarefas árduas e difíceis com facilidade quando estamos entre amigos e descontraídos, ao passo que quando desempenhamos uma tarefa por mais simples que seja, mas sozinho, parece que o tempo não passa, a tarefa se torna monótona, não inspira prazer. Por isso é que eu sempre gosto de estar entre amigo e de trabalhar em equipe, e se possível de forma descontraída. E depois que o tempo passa a gente se dá conta de que são essas coisas tão pequenas que um dia nos farão falta e trarão saudades.