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Gil, Correios e o Brasil
Por incrível que possa parecer, é verdade que os Correios bancam R$ 4 milhões em turnê de Gilberto Gil enquanto enfrentam rombo bilionário, plano de saúde suspenso e ameaça de greve.
A crise financeira dos Correios não impediu a estatal de investir R$ 4 milhões em patrocínio master da nova turnê do cantor Gilberto Gil, que estreou no fim de março.
O patrocínio gerou forte revolta entre os servidores, que enfrentam um cenário de déficit bilionário, descredenciamento do plano de saúde e atrasos nos pagamentos a transportadores.
Arcando com um prejuízo que já soma R$ 2,2 bilhões só em 2025, a direção da empresa defende o patrocínio como uma ação de reposicionamento de marca, apostando no prestígio cultural para tentar reverter a imagem de uma estatal sucateada. Que vergonha.
Enquanto a farra continua, em meio a essa crise, cresce a ameaça de greve nacional, impulsionada não só pela perda do benefício de saúde, mas também por atrasos nos pagamentos de fornecedores e transportadores.
Correios em crise, mas com jazz, samba e luz de camarim com show caro para uma plateia VIP, que pode pagar um ingresso de aproximadamente R$ 1.500,00.
Não entendo uma coisa: se a turnê de Gilberto Gil custa R$ 4 milhões aos Correios, porquê a cobrança de ingressos? Quanto vai arrecadar o artista além dos 4 milhões? O que uma estatal, que não tem concorrência, tem a ver com isso? E nós contribuintes, para bancar esta despesa e luxúria?
A narrativa de “reposicionamento de marca” pode agradar aos marqueteiros, mas soa vazia para quem vê a estatal perdendo credibilidade, estrutura e funcionalidade.
Os shows começaram no fim de março, quando os trabalhadores já passavam sufoco e denunciavam o desconto e o não repasse de valores ao FGTS. Desta vez, a revolta com o patrocínio se soma a outra dor de cabeça dos trabalhadores: o descredenciamento do plano de saúde que, sem receber, suspendeu os atendimentos.
Viva o Brasil que não tem vergonha. Das leituras da madrugada: “No mundo costuma chamar-se de habilidade a falta de vergonha”. (Cándido Nocegal y Rodríguez de la Flor).