Notícias
Escrever após Auschwitz
Coluna 90 da Pandemia. Se cuidem, por favor.
***
Essa coluna é inspirada por um texto de Moysés Pinto Neto. Procurem ele nas redes sociais.
Imagino que a maioria dos leitores saiba, mas é sempre bom lembrar; além desta assinar esta coluna, sou advogado e professor. As três atividades demandam, em boa medida, a escrita. Escrever é o que coloca o pão na mesa dos meus filhos, mas também o que me ajuda a dormir à noite.
Eu poderia ter outra profissão, mas não me vejo longe de nada que não envolva a escrita. Por que disso?
O sentido da escrita é algo que me persegue, uma autorreflexão constante.
Particularmente, na advocacia, as exigências técnicas somadas a intransigente defesa dos Direitos Humanos me permitem articular muitas vezes argumentos impopulares, seja em uma prisão ilegal, um processo desnecessário ou mesmo em um caso de violência contra a mulher sonegado da proteção jurídica. Muitas vezes meus argumentos não são aceitos de pronto. Como desistir não é uma opção, ética ou mesmo pragmática, meus esforços se voltam para melhoria e aperfeiçoamento dos argumentos. Em resumo, meu trabalho na advocacia muitas vezes significa desagradar, apanhar, levantar e desagradar ainda mais.
Isso acontece por aqui, em muitos casos. Eu sei, de antemão, quando um texto vai chocar muita gente. Eu sei também que muitas outras pessoas vão gostar, mas me interesso mais em criar argumentos impalatáveis aos meus detratores. Posso soar antipático, mas não se trata disso.
A forma como eu encaro a educação traz a resposta para esse meu estilo de escrita. O primeiro ponto na educação deve ser lido a partir de Theodor Adorno: “A exigência de que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação”. Nada é mais importante para educação do que combater o fascismo. Todo o resto parte daqui.
Nunca podemos nos esquecer que, para além dos mentores do nazifascismo, uma grande massa de pessoas comuns apoiou textos, leis, obras e atitudes que nos levam ainda hoje à incredulidade face crueldade.
Por isso eu escrevo. Para renovar todos os dias o meu compromisso para que Auschwitz não se repita. Por isso eu não me incomodo nem um pouco se meus textos vão desagradar. Mais desagradável do que eles é o silêncio ante ao fascismo.