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Bodoque
Em uma de suas viagens para receber a aposentadoria, minha avó trouxe da cidade dois pedaços de borrachas. Eram duas mangueiras finas que eram vendidas em farmácias. Chamávamos de mangueira de soro. Ela deu um pedaço para mim e outro para meu primo. Ao nos dar esse presente ela nos dava também uma missão! Fazer o brinquedo, ou então aquela que seria a minha primeira “arma”... O bodoque!
Fui ao mato para encontrar uma forquilha de camboim, uma espécie de madeira resistente. A forquilha tinha que ser parelha, com os dois galhos que tivessem a angulação adequada para permitir uma precisão na hora de usar. Toda essa avaliação era visual, e qualquer guri da minha época sabia fazer. Muitas vezes quando achávamos uma forquilha boa, mesmo não tendo os outros componentes para completar o bodoque, guardávamos aquela forquilha para uma oportunidade futura, pois essa era uma parte essencial do bodoque, e também era mais difícil de encontrar uma boa forquilha.
Depois tínhamos que conseguir uma tira de couro. Um retalho pequeno de 10 centímetros de comprimento por 3 centímetros de largura. Esse era mais fácil de conseguir...
O couro então era perfurado para receber as borrachas, a forquilha passava por um processo de falquejo, raspagem, e depois de estar bem lisinha estava pronta para ser a mira da velha e eficiente arma de caça.
No mundo profissional, a arma mais poderosa das empresas são as pessoas. Hoje, eu diria que, as competências que o mercado exige das pessoas fazem com que as empresas necessitem de colaboradores “bodoques”. Se quisermos buscar nosso espaço, em meio a tanta competitividade, teremos que ser o mais alinhado possível. Não basta ter a melhor forquilha (foco), se não tivermos um couro resistente e bem preparado (empenho, capricho, desenvolvimento), também não basta ter a mira e o suporte do couro se as borrachas não forem boas (capacitação, conhecimento), e mesmo assim com tudo certinho e alinhado, se a empresa não souber usar tudo isso na função certa, não adianta ser o melhor bodoque. Há muitos “bodoques” bons sendo mal usados por piás (líderes) sem habilidade, assim como existem muitos líderes com “bodoques” “meia boca. Além disso, há muitas empresas garimpando ou produzindo “bodoques” para se manterem no mercado.
Pode parecer um equívoco comparar uma “arma” com um profissional, mas no mundo dos negócios as pessoas são as armas mais poderosas que as empresas possuem para enfrentar a guerra competitiva do mercado. E se quisermos fazer parte disso, precisamos ajustar a forquilha, preparar as borrachas, e estarmos prontos para a batalha.