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Bicicleta
Meus brinquedos sempre foram simples, muitos deles eram feitos em casa, mas isso não significa que minhas brincadeiras não eram divertidas. Digo isso porque lá em casa sempre tinham outras crianças que vinham brincar comigo, ou seja, ou gostavam de estar comigo ou de nossas brincadeiras. Era um tempo em que as brincadeiras surgiam naturalmente e mesmo sem brinquedo, tínhamos criatividade para criar brinquedos e brincadeiras.
Quando eu já tinha 10 anos, os meninos da minha idade já possuíam bicicleta, eu só ganhei a minha mais tarde, não lembro quantos anos tinha, mas acredito que por volta dos 15 anos. Com muito esforço, e em segredo, a Vó Chica guardou parte de sua aposentadoria por alguns meses para comprar minha bicicleta.
Um dia ela me convidou para irmos até a cidade. Ir até a cidade não era uma novidade porque eu fazia isso com frequência para acompanhá-la quando ia receber sua aposentadoria. Só que dessa vez foi diferente. Segurando minha mão ela me levou até uma loja e lá me colocou diante de inúmeras bicicletas e me deu o direito de escolher qualquer uma.
O sentimento de surpresa, amor, alegria, felicidade, não sei descrever tudo, foi algo que marcou a minha vida pra sempre. Hoje esse registro da minha memória tem um valor ainda maior, porque consigo mensurar o quanto foi grandioso seu esforço e dedicação para guardar o dinheiro. Uma bicicleta na época era caríssima para quem ganhava apenas uma aposentadoria, como a minha vó.
Escolher ela foi uma das decisões mais importantes que tive de tomar naqueles tempos.
Depois disso a vida me colocou inúmeras vezes diante de “bicicletas”. Nem sempre foram fáceis as escolhas, nem sempre as fiz corretamente, mas aprendi com o gesto da minha vó que uma escolha não é simplesmente uma escolha. Uma escolha tem uma carga de subjetividade que só quem precisa tomar a decisão consegue mensurar, e muitas vezes nem ele. Existe um universo de aspectos que antecederam o momento de estar diante das “bicicletas”. A dúvida é a parte mais crucial de uma escolha.
Tenho certeza de que você também já esteve diante das “bicicletas” em sua vida e que terá muitos momentos em que se sentirá na frente delas. Nem sempre terá uma mão lhe segurando para chegar até lá. Meu conselho é que você lute para que ao chegar nesse momento esteja se sentindo merecedor(a) de qualquer uma delas. Se a vida lhe colocou diante de várias “bicicletas” é porque se você gostar da mais bonita e da mais cara você fez por merecer, e tem potencial para ter qualquer uma delas.
Não lembro se escolhi a mais cara, mas lembro que escolhi a mais bonita, e vivi muitas aventuras com ela. E o aprendizado da escolha perpetua até hoje.