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22/11/2024
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Asso no dedo

    Meu pai sempre andou com o facão na cintura. Para quem lida no mato, na lavoura ou no campo, o facão é uma ferramenta essencial e tem que estar sempre junto. Assim, como também qualquer guri da minha época, tinha que ter pendurado no pescoço o bodoque e ao menos três pedras no bolso.

    Queria ver um guri triste e lamentando, era aparecer repentinamente uma pomba carijó em sua frente dando sopa, e ele estar sem o bodoque. Se iria acertar a pedrada já é outra história…
Por falar em acertar a pedrada, sempre que surgia a oportunidade de tirar o bodoque do pescoço, eu ouvia da Vó Chica: " Se matar eu assino dedo…" Parece que estou ouvindo ela dizer isso!
Era uma forma sarcástica de dizer: Duvido que acerte! No fundo ela sempre torcia para eu errar e tinha motivos para eu ser meio ruim de pontaria com os pássaros. Não tenho lembrança de algum dia ter matado algum pássaro. Sempre tive pena dos bichinhos e atirava mais para contentar meu pai que pensava que guri tinha que saber caçar, pescar etc…

       Graças a Deus a minha vó nunca queimou o dedo para assar um passarinho, mas me deixou lições de vida que perduram até hoje. Para ela, não importava se eu matava ou não o pássaro, mas o que importava para ela era me ver rindo, sonhando, e pensando na vida. Sempre, todas as noites ela me contava histórias longas, para entreter minha cabeça, e depois a gente rezava junto, até pegar no sono.

    Hoje quando vejo um pássaro, fico feliz de olhar no meu peito e não ver nenhuma forquilha pendurada. Olho para o pássaro e penso: tu tens sorte meu caro, de minha avó não estar aqui, porque se aqui ela estivesse, você estaria em perigo. Certamente ela diria: "Se matar, asso no dedo!".

    De tudo isso, eu aprendi que não é porque a arma está na sua mão que ela é um risco, pois o gatilho e a decisão de uso estão na sua cabeça. Também aprendi que nem sempre quem te provoca, te instiga, e duvida de nós, quer o nosso mal. Existem pessoas que encontram formas brilhantes de incentivar o nascer do seu sorriso. Pessoas assim sabem que no fundo você vai seguir a sua essência. Prova disso é que nunca ouvi minha avó reclamar de eu ter errado todas as pedradas. No fundo creio até que ela torcia para eu errar, pois seu coração era muito maior do que ela mesmo podia imaginar.

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Postado por:

Jácson Lusa

Jácson Lusa

Tradicionalista, poeta, pesquisador, comunicador de rádio e cursando bacharelado em adm. de empresas.

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