Na minha adolescência era comum me posicionar contra as ideias do meu pai. Acredito que a adolescência seja uma fase em que normalmente isso acontece, pois hoje passo pela mesma situação, porém na ordem inversa, agora na situação de pai. Da mesma forma que era muito difícil entender a forma de vida que meu pai tentava me ensinar, é muito difícil explicar sobre a vida para meu filho, hoje com 17 anos.

    Agorinha, em minha leitura bíblica matinal, li sobre os apóstolos que após a ressurreição de Jesus iniciaram uma missão de anunciar o evangelho, guiados pelo Espírito Santo, a todo o povo, tanto para os judeus quanto para os não judeus. Como foi difícil a missão deles. Em muitos lugares a verdade que eles anunciavam era repelida com veemência, em muitos lugares eles foram expulsos por falar a verdade.

    Aconteceu no tempo de Jesus, que foi morto por falar a verdade, no tempo dos apóstolos que foram expulsos por falar a verdade, no tempo do meu pai que embora falasse a sua verdade não conseguiu me explicar tudo que sabia, e hoje acontece com meu filho que não crê na verdade que lhe passo. E a vida está construindo a verdade de meu filho que amanhã terá a missão de falar sobre ela para meu neto. Nunca foi e nunca será fácil falar da verdade.

    Talvez um dos melhores entendimentos que tive sobre verdade, foi em um treinamento na Central de Atendimento da Tramontina, onde a colega Angélica, que coordenava o treinamento nos falou e explicou que: “cada um tem a sua verdade”. Lógico que cada pai tentará ensinar o melhor para seu filho, mesmo assim, a carga de vida, de aprendizado, de lutas, de regras que forjaram a “verdade do pai” é diferente da realidade que está forjando a “verdade do filho”.

    Sempre estive carregando o paradigma de que a verdade era uma só, porém me dei conta que embora ela continue sendo uma só, a "minha verdade'' não passa de um constructo que contempla as verdades de cada um que me rodeia. A verdade que explico para meu filho é a minha, diferente um pouco da verdade que meu pai me explicava, e diferente ainda daquela que meu filho irá explicar.

    Isso explica a dificuldade de alguém aceitar a nossa verdade. É simplesmente porque, desde o início do mundo, o modo de levar a verdade até o outro foi através da imposição, e não do compartilhamento. A minha verdade não é absoluta, não é única. Por isso, eu preciso respeitar a tua verdade para que você venha a respeitar a minha.

    Calma, que virão novos tempos, novos adolescentes, novos cenários, novos líderes, e tenha certeza de que surgirão novas verdades. O mais importante é saber que aquele que não aceita a tua verdade, não é teu inimigo, mas sim alguém que tem uma carga de vida diferente da tua e construiu uma forma de validar sua vida baseada no que ele pensa, ou seja, na sua verdade.