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Tempo feio
Por mais que as previsões já anunciassem há dias, quando de fato chega o ciclone, a fúria da natureza nos surpreende e causa medo. A madrugada foi de ventos fortes que assobiavam em sua fúria, em uma ameaça incessante de destruição. Essas tempestades sempre nos deixam com o coração na mão, e esse sentimento de fragilidade nos remete a pensar nas pessoas que a gente gosta, nos faz pensar em Deus, e nos faz lembrar que somos humanos, e não somos tão fortes quanto pensamos.
Recordo que na minha infância, tempo em que as previsões eram pouco precisas, meu pai sempre monitorava o tempo pela sua experiência. Ele sabia qual vento era pra chuva, se as nuvens eram de frio ou de tempestade… Sabia, pela sua experiência de observar, se o inverno seria chuvoso ou não.
Quando percebia a aproximação de um tempo feio, a Vó Chica benzia as janelas e portas com água benta e o pai benzia o tempo com o machado. A fé das pessoas parecia mais forte naquele tempo. Como num passe de mágica o tempo se abria e a calmaria vinha depois dos benzimentos.
Ao longo do tempo parece que as crenças se perderam no meio da evolução, a fé das pessoas está cada vez mais imperceptível, e no meu ponto de vista, a ligação com o Criador parece mais distante. Parece que o homem passou a controlar muito mais coisas, ter mais domínio e assertividade nas previsões e isso faz com que se sinta auto suficiente.
Porém quando acontecem eventos incontroláveis, como o ciclone que relatei, onde, por mais que esteja previsto, o homem não pode fazer nada a não ser rezar, a gente só pensa em se agarrar em uma proteção divina. Nós seres humanos, parecemos aquela criança desobediente que teima em tudo, faz tudo do seu jeito, acha que sabe tudo mas quando vem o aperto ou o medo corre para o colo do pai.
Por isso eu sempre bato na tecla, de que quando o dia está lindo precisamos agradecer, render graças ao ser supremo por nos proporcionar um dia lindo, pois a nossa ligação com ele tem que ser perene. Ninguém gosta de ser lembrado só na hora da necessidade.
Quando me questiono, porque na época da minha vó e dos benzimentos sempre “funcionavam”, eu penso no quanto eles rezavam todas as noites para agradecer a Deus e pedir sua proteção. Então quando eles benziam a casa tinham certeza de que Deus não iria destruir um lugar onde ele próprio habitava.