Faltava dez para meia noite. Os poucos, felizmente, fogos de artfício já brilhavam no céu há algumas horas. Pobres gatos e cachorros, idosos e gestantes: os sustos, quando sozinhos, são mais horripilantes. Pobres dos solitários, que não tiveram com quem compartilhar tamanha grandiosidade de uma virada de ano.

    Um pouco de raciocínio antes do brinde sugere como será o novo ano? Otimismo é importante, mas seu início é um pouco decepcionante porque a natureza está revolta, mas temos que recomeçar.

    A vida não é um acaso. O reinício não é uma circunstância. Felicidade não é um estado de espírito. Crer não é casual. Viver é recomeçar… todos os dias, pelo alvorecer da nossa compreensão, pela confiança do nosso entardecer, pela infância da brandura que todo ser humano deve ter no coração.

    Recomeçar é acreditar que a vida se renova… nos nossos pensamentos e, sobretudo, nas nossas atitudes, no fazer e refazer de nossa conduta. É preciso agir, pois, não se pode, de si para si, pensar que a oportunidade de recomeçar é inexaurível, pois, a cada dia, vidas se iniciam e se findam.

    Enfim, meia-noite. Barulhento, afetuoso, cheio de abraços e desejos que sejam afastados e banidos todos os sentimentos ruins, toda a maldade, toda a inveja, o desemprego, a falta de grana, os amores malsucedidos. Mas, temos que recomeçar.

    Aqui estamos de volta, preenchendo nosso espaço com esses males escritos, mas recomeçando, porque, pensando bem e já passa de muito da meia note, um dia… um certo dia, talvez já não se possa, nesta vida, recomeçar.

    Logo, não deixemos que o tempo passe e, com ele, a ocasião de recomeçar com um gesto, com uma palavra, com um abraço, seja lá de que forma for, mas carinhosa, com respeito.

    Aqui estamos, embora vezes, nos indagamos: por que recomeçar? E o que é recomeçar? Quantos de nossos dias são vividos com a esperança de que o amanhã será melhor? A vida, na sua rotina dia-noite-dia, é um eterno reinício, um eterno recomeçar.

    O pôr-do-sol, anuncia um novo dia e não revela, apenas, o principiar da noite que, bela, lenta e calma, oferece o charme das estrelas, a cumplicidade da lua com o encanto do céu, seduz o sono, reconstrói a esperança, suaviza a dor.

    Assim, se os céus permitirem e vocês aguentarem, estaremos recomeçando, juntos, mais um ano, também torcendo pela natureza normalizada e a paz tão necessária.

    Os que de nós não enxergam, na rotina da vida, um recomeço, não veem as auroras que brilham e brilharão.