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05/04/2023
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Moirão

Quando chego na casa dos meus pais é necessário parar o carro, descer e abrir a porteira pois há uma cerca em virtude da criação de gado. Sempre que me aproximo do moirão para abrir a porteira me vem à memória o quanto é trabalhoso a tarefa de fazer um palanque. Ao menos no meu tempo era... Já tem 25 anos que sai da casa do meu pai, e quando chego lá ao abrir a porteira me deparo com o moirão que eu ajudei a falquejar.

Naquele tempo não havia muitas ferramentas que existem hoje e que vieram para facilitar o trabalho. No meu tempo era serrote, machado e a força do braço.

A tarefa toda era bem mais complexa. Consistia em saber escolher uma madeira boa, com um bom cerne, cortar no tamanho certo e falquejar tirando toda a parte branca da madeira para que ficasse só a parte interna onde está a parte mais resistente da madeira, o cerne.

Se fosse colocado um palanque na cerca sem remover a parte branca, que é a camada externa da madeira, em pouco tempo essa parte apodreceria, deixando a cerca toda solta e caindo. Ou seja, a cerca teria uma vida útil reduzida.

Quando encontrávamos um tronco com um bom cerne, grosso o suficiente para sustentar a cerca, este era escolhido separado para ser o moirão, meu pai chamava de "mestre". Este, o moirão, é o que fica no início, no fim ou em um ponto estratégico de distância. Ele é a garantia de que a cerca permanecerá esticada e firme. Não pode afrouxar nem ceder. Por isso precisa ser mais grosso que os palanques normais, precisa ser de um cerne bom, e ser cravado bem mais fundo no chão, e claro durar um bom tempo.

No fundo, somos iguais aos palanques. Todos temos um certo cerne, que é a nossa essência, experiência, sabedoria… Alguns tem um bom cerno, e servem.de palanque, mas tem alguns que se fosse colocado em prova não aguentariam as intempéries da vida, por ter apenas a casca. Já alguns poderiam ser moirões ou mestres, por terem a essência e a construção de vida que lhe permitiram criar um cerne grosso.

Não importa se você é mourão, palanque, ou trama, o que importa é saber o que você quer ser… As tramas que são madeiras finas, são substituídas a cada dois a três anos, os palanques duram de cinco a sete anos, e os moirões… Ah, os moirões! Esses, como eu disse, já tem 25 anos que sai da casa do meu pai, e quando chego lá ao abrir a porteira me deparo com o moirão que eu ajudei a falquejar.

O cerne bom dura tempo, o bom de verdade dura uma vida. Pessoas boas duram uma vida, as boas de verdade perduram além da vida, e nos ensinam muito tempo além de suas partidas.


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Postado por:

Jácson Lusa

Jácson Lusa

Tradicionalista, poeta, pesquisador, comunicador de rádio e cursando bacharelado em adm. de empresas.

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