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09/06/2023
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Juntando gravetos

    Fui guri em toda magnitude do verdadeiro sentido da palavra e do que representa essa fase na vida de um homem..

    Ter sido guri, significa que andei com o dedo do pé sangrando, com o joelho ralado, que levei “tunda de laço” do pai, que brinquei e me aventurei o suficiente para ser digno de dizer que sim, fui guri.

    Também ser guri era desempenhar tarefas de guri, como juntar gravetos, recolher lenha, fechar os terneiros, puxar água do poço, cortar pasto pros bois de canga, levar a merenda na roça para meu pai, ter horário pra fazer os temas, e assim por diante. Ser guri era ser obediente, respeitar os mais velhos, não se meter na prosa do pai, ter hora para voltar, enfim; ser guri tinha também, alguns sacrifícios.

    Dessas tarefas, embora gostasse de todas, tinha uma que eu adorava que era juntar gravetos.

    Eu ia para o mato, catar galhos finos e secos, para no outro dia começar o fogo.

    O momento de juntar gravetos significava muito pra mim. Era a hora que eu ficava só, com meus pensamentos, no meio do mato, escutava os pássaros e pensava na vida…

    Era uma tarefa simples, mas hoje percebo uma importância tão grande nela.

    Juntar gravetos, significava antecipar uma necessidade como se fosse gerenciar suprimentos. E, tanto eu valorizava isso que quando eu ia juntar gravetos, eu já mentalizava quais eu deixaria, estrategicamente, para juntar o outro dia. Além disso, eu sempre tinha escondido embaixo do galpão um estoque para os dias de chuva. Quando o estoque diminuía eu dava um jeito de repor, pois em dias de chuva a tarefa de acender o fogo se torna um tanto difícil… imaginem sem gravetos!

    Por mais que o tempo tenha passado, acredito que esse sentimento de estar sempre se prevenindo à necessidade vem muito desse tempo, pois como é ruim quando alguma situação nos pega se surpresa e não estamos deveras preparados.

    Parece que, embora aquele menino hoje se olhe no espelho e veja a barba no rosto, as responsabilidades de homem, os desafios de gente grande, no fundo, a minha alma ainda se encontra escutando os pássaros e juntando gravetos.

    Esse pode ser o sentido da vida, nunca perder a essência daquilo que de fato nos faz sentir vivos. Somos responsáveis por manter a nossa alma ligada ao nosso melhor momento, pois quem alimentar o “guri” que existe dentro de si, terá sempre um sentimento de estar “juntando gravetos por aí”…


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Postado por:

Jácson Lusa

Jácson Lusa

Tradicionalista, poeta, pesquisador, comunicador de rádio e cursando bacharelado em adm. de empresas.

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