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02/08/2024
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Essência

    Vivi, convivi e aprendi a gostar do meu primeiro despertador. Não tinha ponteiros, não fazia tic-tac, não atrasava nunca, nem sequer falhava em sua missão de me acordar. Só tinha um detalhe… Era ele quem escolhia o horário e despertava todos os dias, inclusive sábados, domingos, feriados, dias santos, dias quentes, dias frios…

    Sempre às 4 horas da madrugada o galo garnizé abria a goela para seu canto matinal, e assim se cumpria, na minha vida, o ditado popular: "Acordar ao cantar dos galos". Desde então carrego esse hábito de acordar cedo, como se lá no fundo da minha alma ainda ouvisse a goela do garnizé entoando seu canto de alerta.

    Na época não tinha necessidade de conferir o relógio da parede. O galo sempre estava certo. O relógio de ponteiro grandes que um cigano vendeu pro meu pai, de vez em quando, ficava com as pilhas fracas e perdia a força, mostrando a hora errada. Já o galo não! Sempre certeiro, sempre voluntário, sempre repetitivo…

    Quando visito meu pai, além da saudade dele, mato a saudade de ouvir os galos, pois essa “tal evolução” que mudou quase tudo, veio mexericando em quase tudo que havia, e uma das poucas coisas que ela não conseguiu mudar foi no cantar dos galos. Ainda hoje os galos cantam, ainda cedo, ainda certeiros.

    O cantar do galo é como se fosse a nossa essência… O mundo pode mudar em nossa volta, pode o tempo mudar nossa face, mudar a pele, as oportunidades podem mudar os rumos, mas tal qual o canto dos galos, a nossa essência continuará. Como se fosse um arquivo para que se um dia a gente perder a noção de onde é o nosso lugar ou até mesmo quem somos, basta revisitar a nossa essência, e lá nos encontraremos com a nossa verdade.

    A sua essência é um galo, que canta sempre do mesmo jeito, respeitando apenas a sua missão de nunca mudar. Passe o tempo que passar, aconteça o que acontecer, esse canto ancestral estará vivo mostrando que o simples pode ser mais eterno do que tudo aquilo que te encanta os olhos nas frágeis novidades momentâneas.

    Quando vejo algum homem ostentando um relógio de marca renomada, que muitas vezes custa mais do que meu carro, eu só penso: "esse relógio nunca chegará aos pés da competência dos galos garnizés".

    E assim gostaria que você dissesse a si mesmo, quando alguém porventura se autopromover às tuas custas, ou para te diminuir: “Jamais chegará aos pés da minha essência, porque tudo o que sou se tornou eterno por ser simples…”

    Talvez seja somente o que a gente precisa na vida: O simples, o que nunca nos abandona, a essência, enfim, o essencial.


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Postado por:

Jácson Lusa

Jácson Lusa

Tradicionalista, poeta, pesquisador, comunicador de rádio e cursando bacharelado em adm. de empresas.

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