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Casa di Aromi na CasaCor 2025: Patrícia Pasini assina arquitetura de espaço comercial com instalação viva
A escolha de materiais naturais, como os mármores e o piso original do antigo aeroporto, e a utilização de troncos de erva-mate e araucária resgatados da recente enchente no Rio Grande do Sul reforçam o compromisso com a sustentabilidade e com o respeito
Em sua terceira participação na CasaCor Rio Grande do Sul, a arquiteta Patrícia Pasini apresenta um projeto que é, ao mesmo tempo, manifesto e refúgio. Batizado de Casa di Aromi, o ambiente ressignifica materiais, exalta saberes locais e propõe a beleza da imperfeição como linguagem estética e ética.
“Mais que um espaço comercial, é uma experiência sensorial e poética onde natureza, arte e memória se entrelaçam com delicadeza”, explica a profissional natural de Garibaldi.
Reconhecida por sua arquitetura sensível, profundamente conectada às raízes da Serra Gaúcha, Patrícia desenvolve uma linguagem autoral baseada na escuta atenta, na valorização da história e na escolha de materiais que revelam sua origem. Sua trajetória combina restauração patrimonial, crítica das artes visuais e uma vivência afetiva com a arquitetura desde a infância.
Inspirada pelo tema Semeando Sonhos, Casa di Aromi propõe uma leitura sensível e crítica sobre o tempo, a memória e a regeneração. O espaço abriga a instalação Coração Flamejante, composta por troncos de erva-mate e araucária resgatados da recente enchente no Rio Grande do Sul. A obra dialoga com mármores reaproveitados, paredes rústicas e superfícies que falam do passado, da transformação e da beleza da impermanência.
"Mais do que uma loja de aromas, é um território de escuta e afeto", define Patrícia, ao emendar: “a CasaCor me oferece esse presente: transformar em espaço aquilo que carrego na alma."
A proposta vai além da estética: trata-se de uma arquitetura integrada ao ambiente e à coletividade. A escolha dos materiais, como os mármores e o piso original do antigo aeroporto, reforça o compromisso com a sustentabilidade e com o respeito ao tempo das coisas. Papéis de parede inspirados na natureza e expositores que resgatam elementos em desuso completam a experiência, convidando o visitante não só a observar, mas a sentir.
Natural de Garibaldi, no interior do Rio Grande do Sul, ela descreve como o território moldou seu olhar: "Nascer nesta terra de neblinas, de uvas maduras ao sol, de casas que abrigam histórias contadas em voz baixa, crescer entre a textura da pedra, o calor da madeira e o som das mãos que trabalham com o tempo fez com que eu aprendesse a olhar com calma e a escutar com profundidade."
Essa vivência se traduz em uma estética que celebra o que é verdadeiro e imperfeito — madeira, pedra, aço e outros elementos naturais ganham valor ao carregarem as marcas do tempo. Para Patrícia, arquitetura é expressão de identidade, não de modismos: "Busco criar espaços que traduzam a essência de quem os habita. Uma arquitetura feita para pessoas reais, onde o sofisticado convive com o simples, o design assinado encontra o mobiliário artesanal, e tudo ganha alma ao fugir dos padrões."
Premiada pelo IAB RS e pelo Ópera Prima, e responsável por projetos significativos como o Parque da Barragem, doado à sua cidade natal, Patrícia amadurece a cada edição da mostra. Depois de estrear em 2022 em parceria com outro escritório, e de apresentar seu primeiro solo em 2023, consolida em 2025 sua assinatura artística com ainda mais profundidade.
Sobre a arquiteta
Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) há 16 anos, Patrícia Pasini construiu sua trajetória com base em vivências profundas e escolhas guiadas pela sensibilidade. Realizou intercâmbio na Universidad de Valladolid, na Espanha, e especializou-se em Restauração de Patrimônio Histórico Edificado pela PUC-RS. Atualmente, é mestranda em Artes Visuais pela UFRGS, com ênfase em História, Teoria e Crítica, integrando a linha de pesquisa Imagens, Culturas e Memória.
Sua conexão com a arquitetura nasceu cedo. Ainda menina, aos sete ou oito anos, acompanhava o pai em passeios de carro por Garibaldi, onde ambos observavam fachadas, janelas, varandas e volumes em busca de inspiração para a casa que ele sonhava construir. “Mesmo tão nova, eu me encantava silenciosamente com cada edifício”, lembra. Uma imagem marcante dessa fase ficou gravada na memória: “Ao passar pela Mansão Mazzini, eu sempre pedia ao meu pai: ‘Para o carro, só um pouquinho…’. Queria olhar, absorver cada linha, como se pudesse desvendar os segredos escondidos naquelas paredes antigas.”
Foi nesse tempo que começou a repetir, com a firmeza típica da infância: “Quero projetar casas”. Ainda sem conhecer os nomes corretos, já compreendia intuitivamente que o que a movia era a arquitetura — essa arte de transformar sonhos em espaços habitáveis.
Durante o ensino médio, surgiu a dúvida entre engenharia e arquitetura. Um teste vocacional revelou o que o coração já sabia: 100% arquitetura. A partir dali, a paixão virou propósito. “Mais do que profissão, a arquitetura se tornou uma forma de ver o mundo, de criar abrigo e contar histórias por meio das formas, da luz e da matéria.”
“Para mim, a arquitetura nasceu do olhar atento de uma criança, da sensibilidade herdada em pequenos gestos, e se transformou em caminho, em escolha, em vida.”