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A dor faz parte da vida…
O serviço pesado, as longas distâncias, o peso de tantas coisas, inclusive da idade, tudo isso, judiaram muito da minha querida Vó Chica.
Nos últimos dez anos de sua vida, ela precisou adotar um pedaço de madeira, de aproximadamente um metro, como se fosse uma bengala de apoio. Um desgaste no fêmur causado pela osteoporose trouxe-lhe dores que dificultaram seu caminhar.
Mesmo com medicação essas dores foram moldando uma nova forma de caminhar. Aos poucos o fato de se apoiar mais em uma perna do que na outra, mudou a aparência da caminhada. Mesmo mancando ela nunca pensou em parar.
As tarefas que ela desenvolvia já precisavam de mais tempo do que antes, mas nem por isso ela deixava de fazer. Aos poucos gradativamente ela foi substituindo as tarefas da roça, que eram longe de casa, pelas tarefas dos arredores de casa. Mesmo assim, ela fez questão de ter um pedacinho de terra para plantar batata doce, algumas carreiras de milho branco, mandioca, ou seja, alguma coisa para continuar lidando com a terra.
Pouco ouvi minha vó reclamar das dores, embora fosse perceptível as limitações que eram impostas pela sua condição. O bastão de madeira e a garrafa de álcool com arnica passaram a ser seus aliados para enfrentar as adversidades causadas pela dor.
A vida é assim, impositiva, dura, sem muita piedade. Creio que as gerações passadas aprendiam a conviver com a dor de forma diferente de como vivemos hoje. Médicos, anti-inflamatórios e até as condições de trabalho mudaram muito o impacto das dores físicas nos dias de hoje.
Olhando para a jornada da minha vó, posso entender que há dores inevitáveis, e que teremos que aprender a conviver com elas. O que vai mudar é a nossa atitude perante a isso. Vamos lamentar e desistir do que gostamos, ou vamos modificar nosso de pensar e agir para manter um pouco do que gostamos? Vamos parar de lidar com a terra ou vamos fazer uma mini lavoura perto de casa? Vamos deitar em uma cama até a dor passar ou vamos improvisar moldando uma bengala para continuar caminhando?
Isso não quer dizer que devemos ser submissos e aceitar tudo, mas haverão problemas e obstáculos que não vamos conseguir dar conta. Haverão momentos em que precisaremos ser um pouco Vó Chica e persistir lutando com as armas que temos. Mudamos o ritmo, mudamos a aparência do passo, mas não deixamos de caminhar…